23 de março de 2009

Bateria versus Música

Existem ocasiões em que gosto de ouvir o som ritmado da bateria, principalmente quando executado com bom gosto e com a música adequada. Geralmente músicas que pedem bateria tocada de modo repetitivo são músicas de melodia simples e com pouca harmonia. Já cheguei a ouvir rock mais pesado e gostei por causa de melodia, letra e perfeição no toque. Gosto de qualidade e pude ver em alguns grupos. Especificamente costumo muito gostar de músicas de filmes que vêm crescendo até o final apoteótico. 007 já apresenta músicas românticas e, às vezes, de ação. Também gosto de associar as batidas a esportes e exercícios, quando isso é possível. Mas tudo isso cansa. Musicalmente falando, ruído e som são coisas distintas. Som é o que os instrumentos musicais produzem, ruídos ficam a cargo dos instrumentos de percussão. Em ocasiões especiais posso apreciar músicas regionais brasileiras, mexicanas, africanas, minimalistas e blues e seus derivados. Geralmente a percussão é característica e muitas das vezes, fundamental. À luz de velas, um jazz pode ser muito interessante. Mas sempre a qualidade precisa estar ali, presente.

Neste ponto gostaria de falar do outro lado das coisas: o exagero. O que significa fisicamente o som da bateria numa música genérica (pense em músicas de qualquer tipo)? Significa adicionar ruído a uma combinação melódica e/ou harmônica. Se a música restringe-se a uma linha melódica com pouca polifonia a repetição de um mesmo padrão de ruído marcando tempos repetitivos acaba se tornando meramente uma adição de "barulho". Claro que os ruídos podem ser colocados de modo inteligente, de modo a tornar a música simples em algo mais complexo. Nesse caso o ritmo teria que ser variado e não monótonamente repetido. O jazz costuma fazer essa variação. Outro detalhe importante na música que eu pessoalmente considero de qualidade é a intensidade. Ruído de percussão na música deve ser para dar algum efeito ou marcar o ritmo em alguns pontos da música. Excesso de volume transforma esse ruído em barulho. Barulho não é bem-vindo. Barulho é prejudicial e não acrescenta nada. Algumas músicas precisam ser repetitivas pela sua natureza. Então é bom que o acompanhamento faça isso sem abusar da percussão. Afinal, quem gosta de ficar ouvindo dia-e-noite o tic-tac de um relógio antigo? E se esse mesmo barulho tiver muitos decibéis? Além de surdez, isso pode trazer loucura!

O terceiro ponto é quando não (ab)usar da percussão. Quando o objetivo da música for a reflexão. Quando se está em casa, tranquilo, desejando-se viajar "com a mente" para outro lugar, ouça música leve. O ideal, eu diria, é uma música clássica (erudita) num equipamento de alta fidelidade (hifi). Você é transportado para outro local, outro tempo, outro planeta, outra realidade. Você exercita o cérebro, as lembranças e a criatividade. Quem não gosta (eu diria que certamente não conhece) pode pensar em alguma música orquestrada que tenha algumas partes tranquilas, e que preferencialmente não use bateria. A riqueza da orquestra é completa: tem percussão, tem melodia, tem harmonia, tem consonâncias e dissonâncias, tem partes fortíssimas, tem partes pianíssimas (fraquíssimas), tem trechos lentos e trechos muito rápidos. Além disso tem estruturas primárias e secundárias quanto aos temas, que geralmente aparecem modificados em vários trechos de uma obra musical. Tudo isso mantém a música erudita sempre viva, enquanto sabemos que o rock das décadas anteriores já são música ultrapassada. Comparando, ainda que consideremos um solo de um instrumento contra uma música rock típica, o rock é sempre forte, sempre mantém seu metrônomo constante, tem pouquíssima harmonia, baseando-se nas melodias e sons algumas vezes estridentes de guitarras com pedais e, onde eu queria chegar aqui, um ruído que contamina a música, interrompendo-a do início ao fim.

Tendo relizado todas essas considerações, agora vem a música da igreja. Vou ser direto. Acho que os músicos cristãos estão equivocados em seus objetivos e alvos. O que pretendem com a bateria (ou apenas o seu som repetitivo, ainda que mais suave que no rock convencional) nas músicas religiosas? Letra religiosa com ritmo e melodia agradável aos ouvidos é suficiente para que uma música seja adequada para reflexão? A primeira questão é o objetivo da música para o ouvinte ou executante: ser agradável apenas ou transportar a mente para algum objetivo? Refazendo a pergunta: fazer com que se fixe o pensamente no ritmo monotonamente constante e melodia pura e forte ou abra a mente para uma reflexão profunda, com música bastante harmônica, contendo partes lentas e suaves? Existem muitos estudos, muitos argumentos, muita gente boa perdida na técnica mas sem noção de objetivo, por preconceito. A música erudita enquadra-se muito mais no perfil da reflexão. Dizer que a música tem que ser mais alegre, mais jovem e mais moderna são argumentos de quem tem preconceito. Música é música e cada uma é adequada para uma finalidade. Para mim, igreja é lugar de música para reflexão. Ponto. Bateria não combina com música de reflexão. Ponto. Se você acha que a Bíblia mostra exemplos contrários, por exemplo, em Salmos, sugiro ler sobre esse assunto em http://www.musicaeadoracao.com.br .

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